Alto e pára o baile! O ano 2025 que espere…
O ano de 2025 começou, sem que eu tivesse chegado ao fim do ano anterior. 2024 foi intenso em projetos pessoais. Digo ‘pessoais’ (e não ‘individuais’, atenção!) porque foram projetos que não emergiram do contexto do meu trabalho remunerado, ainda que estejam sistemicamente e intimamente ligados com o mesmo trabalho coletivo de contribuição para a mudança societal, de ‘transição’, que faço na Transition Network.
Vou ouvindo que estes projetos são tão profícuos e inspiradores que mereciam que eu fosse escrevendo sobre eles para partilhar convosco. Falhei. Não consegui, por mais que tentasse, fechar o ano tendo cumprido com o que me comprometi comigo própria. Se o ano foi recheado de histórias lindas, seguiram-lhes o cansaço extremo, a fragilidade física e emocional e, muitas vezes, o desespero - tudo tem que ter tempo e espaço para ser vivido e o ano 2024 não foi longo o suficiente para viver tudo isto como deve ser e sentar-me a escrever, depois de tudo processar.
Sento-me agora em frente ao computador, marco uma pausa para observar a luz branca de inverno a entrar pela janela do teto esconso da minha sala, entalo a manta de crochet debaixo das pernas, e penso:
- 2025 que espere!...
Sinto que o que eu tenho para vos contar é como um emaranhado de coisas ligadas num contexto comum. Tudo isto brota do facto de que nunca encontrei equilíbrio no trabalho internacional exclusivo - preciso de ligar as várias escalas. Enraizar localmente o que vou recolhendo na minha experiência profissional alimenta-me - enraizar na minha terra, onde a minha cultura e a minha língua materna vivem. São histórias de experimentação e de contribuição para a inovação transformativa social em Portugal no contexto de um grupo emergente de agentes de mudança, ainda informal - a rede Micélio. Mas, ainda mais importante, são histórias de Amor - do poder do amor por este tipo de trabalho e do amor entre quem o faz, na co-criação de uma nova cultura humana, colaborativa, regenerativa. Esta parte tende a ficar de fora dos relatórios de projeto e eu penso que relatórios de projetos de transição deveriam incluir sempre uma parte sobre o que não se pode medir com números: o amor, a conexão, a integridade, a inspiração, a tristeza, o luto…
2024, em suma:
O mundo está em crise - já se sabe. É um mundo em busca de sentido e que enfrenta desafios consideráveis a todas as escalas. A falta de perspetiva, a incerteza do amanhã, a sucessão de múltiplas crises (ecológicas, económicas, sociais e espirituais) e o medo do desconhecido podem empurrar-nos a todos para reflexos de defesa que são egoístas, ilusórios e até tóxicos.
Reconheço estes sinais por toda a parte mas doi-me ver os efeitos na comunidade portuguesa de agentes de mudança, num momento em que a coesão, a resiliência e uma visão coletiva são fundamentais. Foi com o propósito de experimentar uma forma de fazer diferente que a rede Micélio surgiu.
A abordagem de intervenção no âmbito do rede do Micélio assentou em 3 pontos principais: Imaginação, Inteligência Coletiva e novas Narrativas de Transição, que compõem um triângulo em torno de uma comunidade de iniciativas: o objetivo foi o de capacitar uma comunidade de mudança em Portugal – ampliando a massa crítica para uma cultura humana saudável.
Durante o ano de 2024, organizámos várias formações de ferramentas de Inteligência Coletiva, houve um encontro da rede Micélio, uma experiência do Jogo do Tao e a uma formação de facilitadores Tao. O projeto maior (a loucura maior, diria eu) foi todo o processo da publicação do último livro do Rob Hopkins em português - ‘E Se… Libertássemos a nossa imaginação para criar o futuro que desejamos?’ (título original ‘From What is to What if’) e a digressão que o Rob e eu fizemos de norte a sul de Portugal, no mês de outubro. Este processo envolveu muitas pessoas, tantas! - e tantas foram também as ligações tecidas entre elas.
E pronto.
Destas coisas que aconteceram durante este ano, há algumas coisas a partilhar convosco. Ora façamos isto por partes: vou listar aqui em baixo o que eu vou escrevendo, ok? Gostava de saber quais são as vossas reflexões e as vossas questões - não deixem de me interpelar se tiverem algumas.
- Jogo do Tao
- Digressão ‘E Se…’ - Rob Hopkins e Filipa Pimentel em Portugal
- Justiça linguística - reflexões